A guerra do Brás já custou R$ 50 milhões

Os dois dias de batalha entre camelôs que trabalham nas calçadas e a Polícia Militar na região da Feirinha da Madrugada, no bairro Brás, já resultou no prejuízo de R$ 50 milhões aos lojistas que foram obrigados a baixar as portas.

De acordo com a Alobrás (Associação de Lojistas do Brás), os cinco mil comerciantes da região faturam cerca de R$ 9 bilhões por ano, gerando, em média, R$ 25 milhões por dia, com faturamento diário de R$ 5 mil para cada loja. Mesmo quem conseguiu abrir o comércio nesta quarta-feira não encontrou clientes. “Por causa de tudo o que vem acontecendo nesses dois dias, os consumidores não estão arriscando vir para cá. Eu estou tendo um prejuízo diário de uns R$ 6 mil”, afirmou Cláudia Oliveira, gerente de uma loja que só vende bonés na Rua Monsenhor Andrade.

Cláudio Sampaio da Silva, gerente de uma loja especializada em calças, conta que já perdeu R$ 15 mil nos dois dias. “Aqui virou um barril de pólvora. Enquanto a situação não for resolvida, os clientes vão ficar afastados por segurança”, afirmou o gerente. Segundo a Alobrás, em dias normais, circulam pela região aproximadamente 300 mil pessoas.

Confronto/ Pelo segundo dia consecutivo, a Prefeitura manteve a resolução de não permitir que 2,7 mil vendedores ambulantes trabalhem nas calçadas. Os camelôs não se conformaram e resolveram protestar novamente. Reuniram-se às 4h e fizeram um apitaço, tudo acompanhado pela Tropa de Choque da Polícia Militar.

Quando os ambulantes fecharam a Avenida do Estado, por volta das 7h, os policiais agiram. Foram jogadas bombas de gás lacrimogênio e houve agressões com cassetetes.

Grupos depredaram fachadas de lojas e intimidaram os poucos  lojistas que tentaram abrir as portas. Foram bloqueadas diversas ruas e o trânsito ficou caótico. Dois ambulantes foram detidos.

“A Prefeitura não arrumou um lugar para a gente trabalhar e agora resolveu tomar essa atitude, bem na época do movimento de fim de ano. Nós aceitamos ir para bolsões próximos, mas a Prefeitura não está oferecendo nada. Vamos continuar com os protestos”, afirmou o presidente do Sindicato Independente dos Camelôs do Estado de São Paulo, Leandro Dantas.

O prefeito Gilberto Kassab (PSD), que estava nesta quarta em Brasília, defendeu punição aos camelôs que fizeram vandalismo. “Não é justo que a Prefeitura não imponha ordem (no comércio ilegal). Temos o dever de fazer com que essas pessoas sejam evidentemente punidas. Nesta região, são mais de dois mil camelôs regulamentados, que trabalham corretamente e merecem todo nosso apoio”, afirmou o prefeito.

A Prefeitura informou nesta quarta que foi oferecido aos camelôs ilegais, em reunião realizada nesta quarta, cursos profissionalizantes, orientação e assistência para acesso a linhas de crédito dos Programas São Paulo Confia e Banco do Povo. Os ambulantes não gostaram da oferta.





Projeto não inclui os ambulantes irregulares
O único projeto de revitalização que a Prefeitura tem para a região da Feirinha do Brás não contempla a participação dos 2,7 mil ambulantes que estão ilegais nas calçadas.

O projeto Circuito de Compras, de responsabilidade da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, prevê a construção de um shopping popular vertical na área fechada onde hoje funciona a feirinha. Está incluída apenas a participação dos 4,1 mil ambulantes que já trabalham legalmente dentro da feirinha. A previsão é de que o shopping fique pronto em até dois anos.

Para realizar as obras, a Prefeitura precisa de autorização da União, proprietária da área. Até dezembro devem ser acertados o tempo de concessão e o valor que Prefeitura pagará.

Em maio, a Secretaria de Desenvolvimento Urbano anunciou um plano para o Parque Dom Pedro 2, que previa um “centro de compras”.  Esse centro, segundo a Prefeitura, será o  shopping.

Entrevista
Cândido Malta_Urbanista

Especialista propõe bolsões para vitalizar área

DIÁRIO_ Qual seria a melhor solução para a área da Feirinha do Brás?
CÂNDIDO MALTA_ Essa região, em termos históricos, sempre teve uma vocação para o comércio popular atacadista. Muitos varejistas, de até outros estados, fazem compras na região para abastecer os seus comércios locais. A Prefeitura deveria implantar bolsões pela região para abrigar os que atualmente trabalham nas calçadas. Não se pode simplesmente ignorar essas pessoas e expulsá-las do local.

É possível fazer um projeto urbanístico que contemple a vocação de comércio e vitalização da área?
Se for elaborado um programa integrado bem planejado, é possível, sim. Poderiam ser colocadas algumas praças para convivência na região. O problema é que a cidade, pela influência da colonização portuguesa, ergueu muitos largos ao longo da história, mais propícios aos comércios, às feiras. Os espanhóis, por outro lado, sempre fizeram mais praças. É preciso construir outros locais de convivência na metrópole para as pessoas se reunirem e trocarem experiências e conversas. Só assim a região ganhará mais qualidade.

Camelódromo era previsto em 2010
No esboço do projeto de revitalização do Parque Dom Pedro 2, em 2010, estava prevista a construção de um camelódromo entre o Páteo do Colégio e o parque, depois da demolição de duas quadras inteiras. No projeto final apresentado neste ano, no entanto, a ideia não vingou.

Projeto da Prefeitura inclui mais 3 regiões
O Circuito de Compras inclui outros regiões próximas do Brás, como o Bom Retiro, a Santa Ifigênia e a 25 de Março. A Prefeitura pretende oferecer melhor infraestrutura e transporte dentro desse roteiro.

170
milhões de reais é o custo total do Circuito de Compras

300
ônibus fretados chegam por dia para comprar na Feirinha do Brás

Fonte: Rede Bom Dia